Como amar o que nos ensinaram a odiar?
Meus cílios não têm o tamanho nem a curvatura perfeita. O meu cabelo não é liso suficiente e meus lábios não são carnudos. A minha cor é muita pálida, mas se for me bronzear tenho que escolher um biquíni que acentue as minhas curvas e disfarce as gordurinhas. Além do mais, não posso ficar tempo excessivo na praia porque o sol é o principal fator que contribui para o envelhecimento da pele. Quando escrevo isso me dá vontade de rir, mas lembrei que a minha risada deixa evidentes minhas marcas de expressão.
Essas são somente algumas das milhões de mensagens relacionadas à aparência que as mulheres são bombardeadas todos os dias. É tempo e muito dinheiro gastos em procedimentos milagrosos que prometem nos devolver a autoestima que logo será posta à prova pela próxima pigmentação de sobrancelha inovadora que deixará o rosto mais harmônico e atraente, afinal essa é a nossa única preocupação e objetivo nesta existência.
Se nós não formos bonitas o suficiente, gostosas o suficiente, ser somente inteligentes não basta. Vivemos em uma sociedade em que todos dizem amar as mulheres, mas me pergunto que mulher é essa? Uma mulher com padrões estéticos irreais e inalcançáveis. Alguns dirão que é preguiça, outros que é falta de foco e determinação, pois tudo se conquista, até mesmo o corpo ideal. Mas há que custo?
Trabalhando como fotógrafa busco retratar e enaltecer exatamente as diferenças, e quando falo busco é porque realmente é algo que persigo, mas nem sempre consigo. A cada ensaio me deparo com mulheres inteligentes, sedutoras, espirituosas, guerreiras e tantas outras características que lhes fazem lindas por serem reais. Mas, além disso, me deparo com suas inseguranças em relação ao corpo.
É uma gordurinha na perna que incomoda, uma linha de expressão na testa, um sinal nas costas, uma espinha na bochecha...ao meu ver minúsculos detalhes que não diminuem em nada quem elas são, pelo contrário, me mostram a grandeza da sua história, sua personalidade e também a brevidade dos momentos, as mudanças do corpo e os ciclos da vida de cada mulher.
Mas não pense que faço esse relato como alguém bem resolvida e super confiante da sua aparência. Um dia desses ouvi de uma mulher muita sábia que só ensinamos aquilo que precisamos aprender. Não que queira ensinar algo, mas através da fotografia tento fazer com que as mulheres se aceitem mais como elas são, pois é algo que também preciso aprender. No meu caso, posso dizer com propriedade é um trabalho árduo.
Eu que com 14 anos vomitava e tomava laxantes para não engordar. Eu que deixava de dar um mergulho na piscina para não tirar a maquiagem e mostrar as minhas marcas de espinhas. E eu que me comparava com outras meninas por serem mais magras, mas altas e mais bonitas. Numa idade em que a única preocupação deveria ser curtir a minha adolescência de forma saudável e viver o máximo de experiências que contribuíssem para o meu desenvolvimento.
Quando olho pra traz, agora com 31 anos, percebo que não estava vomitando a comida, estava vomitando o desamor por mim. Então, fico pensando como começou tudo isso? Pode ser o culto à beleza, à magreza e jovialidade tão propagados na nossa sociedade. Pode ser a história de vida que me levaram à distúrbios alimentares, entre outros fatores.
Mas, o que quero com esse texto não é falar das minhas dores e como tudo isso ainda reflete na minha vida, mas sim provocar reflexão e um espaço para compartilhamento das nossas vulnerabilidades. Como podemos nos amar se por todos os lados nos ensinam que ser como a gente é não é suficiente? Que sempre precisamos de mais um retoque para sermos aceitas.
Não é fácil mergulhar em si mesmo e amar todos os pequenos detalhes e pedaços do nosso corpo e da nossa história. Às vezes dá certo, às vezes não, mas é um exercício que podemos praticar através de doses diárias de amor próprio, auto aceitação e honra às diferenças em cada uma de nós.
Por isso faço um convite: Permita-se ser você em todas as formas!
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Contato: (48( 99135-5064
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